"Símbolo de mulher brasileira, musa de Ipanema, inventora da tanga, Rose Di Primo deixou marcas nas areias de Ipanema, no Rio de Janeiro e no imaginário de milhões de brasileiros."
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Nenhum olhar é atraído quando, numa tarde de domingo, Rose di Primo, 47 anos, uma mulher alta, elegante, cabelos castanhos e ondulados, entra apressada numa lanchonete do bairro paulistano de Campo Belo. Trinta anos atrás, a mesma Rose di Primo, também num domingo, atraiu centenas de olhares escandalizados na praia de Ipanema, no Rio de Janeiro, quando pisou na areia com uma tanga que acabara de criar, meio por acaso, e pouco escondia seu corpo escultural. Nos anos seguintes, a vida da menina de família simples, que chegara ao Rio ainda criança com a mãe e duas irmãs, viraria do avesso.
Durante uma década, nenhum olhar conseguiu desviar-se daquela morena desinibida e voluptuosa. Poetas, borracheiros, ministros, presidentes, todos sonharam com Rose. Ela conheceu o sucesso, foi desejada. Agora, decidiu vasculhar as memórias e trazê-las à tona na autobiografia Rose di Primo - Do Brilho à Luz (Ieditora, 272 págs.). No próximo ano, a história da modelo deverá ser levada às telas, projeto ainda em fase de acertos.
"Durante muito tempo, escreveram absurdos a meu respeito; tem gente que acha que eu morri, que estou largada. Isso me motivou a contar minha história", diz Rose.
O reencontro com lembranças nem sempre agradáveis, admite a ex-modelo, serviu para esclarecer histórias mal-contadas, exorcizar alguns fantasmas, expiar culpas e promover o encontro da Rose do passado com a do presente. Que, enfim, fizeram as pazes.
A vida de Rose foi marcada por altos e baixos. Em 1971, aos 13 anos, descobriu, nas areias de Ipanema, a vocação para a polêmica. Chegou à praia vestindo uma tanga com laços laterais, numa época de biquínis tão comportados como os usados até hoje pelas americanas.
"Quando apareci na praia, foi um escândalo, todo mundo saiu de perto de mim, assustado", lembra a ex-modelo.
A carreira de Rose deslanchou de vez quando tinha 16 anos e venceu um concurso de beleza promovido pelo apresentador Flávio Cavalcanti, na TV Tupi. "A partir daí, todos os jornais e revistas queriam fazer reportagens sobre mim", lembra-se Rose. Aos 18 anos, foi capa da revista "Manchete". Na foto, ela aparecia sentada numa moto, apenas com um diminuto biquíni branco. A imagem rodou o país e o mundo e atiçou a libido de gente graúda, como o então ministro da Fazenda, Delfim Neto, que ligou para a redação da "Manchete" pedindo que lhe enviassem uma revista autografada por Rose.
"O editor pediu para eu fazer uma dedicatória ousada, mas recusei e apenas escrevi que admirava seu trabalho", esclarece.
O episódio do ministro, aliás, rendeu boatos durante um bom tempo. Uma famosa revista masculina deu destaque para a tietagem, afirmando que Delfim havia ligado para a modelo. "Isso nunca aconteceu, nunca nos falamos ou nos conhecemos", garante Rose. O deputado Delfim Neto foi procurado pela reportagem do Valor, mas não quis comentar o assunto.
Casos como o do ministro se repetiram muitas vezes e foram minando a resistência da modelo, que começou a sentir falta de coisas simples, como andar na praia sem ser apontada ou fotografada.
"As pessoas queriam ver nas ruas a Rose di Primo das fotos, mas eu não era assim", afirma.
Nos anos seguinte, ela foi capa de revistas e tentou a carreira cinematográfica. Freqüentou as altas rodas da sociedade e tornou-se presença constante em vernissages e festas.
Fonte: Valor Econômico, edição de 10/7/2002 - Ricardo de Souza, São Paulo