Quando se pensa em propagandas de cigarro, logo vêm à mente aquelas produções arrojadas, milionárias. Houve uma, contudo, que prezava pela simplicidade – e talvez seja justamente por isso que ela permaneça no imaginário dos brasileiros até hoje. O reclame de Chanceller era um galã numa sala de decoração clássica, um bom texto e nada mais. Dizia o slogan, um trocadilho que aludia à finura do cigarro e à magreza do rapaz vestido de branco:
“O fino que satisfaz”
Três décadas e meia depois, o fino não satisfaz mais ao garoto-propaganda. Com 61 anos de idade, fumando há 50, Pedrinho Aguinaga quer largar o cigarro. “Subir dois lances de escada e ficar ofegante?! Não estou gostando nada disso. Sai mal na fotografia!”, explica. Mas até que ele não tem do que reclamar. Tirando o pigarro insistente, um leve amarelado nos dentes e uma intoxicação após as filmagens do comercial, por conta dos inúmeros cigarros que foi obrigado a acender, ele garante que ainda não teve grandes problemas decorrentes do vício. Pelo contrário, gaba-se de sua forma física e da “barriga tanquinho”, que sua camisa aberta deixou à mostra durante a entrevista.
A última fala de Pedrinho na propaganda era assim:
“Aí você diz: ‘Se Chanceller é tão bom e tão fino, onde estão os carros maravilhosos, os aviões, iates, helicópteros de todo comercial de cigarro?’. Aí eu respondo: ‘E precisa?’”.
Tal qual Chanceller, ele nunca precisou. Mas, graças aos amigos, gozou de tudo isso. O prêmio de homem mais bonito do Brasil, ganho no programa de Flávio Cavalcanti em 1970, funcionou como um passe expresso para o mundo dos ricos e famosos.
A vocação para bon-vivant, é bem verdade, já despontava na família. Fernando, seu pai, dentista que nunca exerceu a profissão, era apelidado de Barão e costumava receber em casa gente como Ibrahim Sued (colunista social carioca), Juscelino Kubitschek e Tancredo Neves. “Ele era ainda mais bonito do que eu, vestia-se muito bem e conversava sobre qualquer assunto”, rememora. Sua mãe, “uma mulher incrível”, era oficial da marinha norte-americana.
Sem muito esforço, Pedrinho construiu uma biografia das mais consteladas. Em uma temporada em Nova York, conheceu Andy Warhol. Foi amigo do bailarino Nureyev, do diretor Pasolini. Atuou em filmes dos Trapalhões, protagonizou uma das cenas mais quentes da história do cinema brasileiro em Rio Babilônia, de Neville D’Almeida, e participou de Banana mecânica, de Carlos Imperial. Colecionou affairs com tantas musas que faria inveja até a Jorginho Guinle – entre os troféus que ele revela, estão Vera Fischer (na época com 18 anos), Rose di Primo (“Primeiro avião brasileiro”), Maria Callas (“Cantou para mim acompanhada de quatro chiuauas!”), Bianca Jagger (“Correu atrás de mim em Londres com a perna quebrada!”), Marisa Berenson (“O melhor corpo que já vi”), Liza Minelli (“Era uma espoleta!”), Demi Moore (“Viajamos para Angra em uma caminhonete sem freio”) e Monique Evans, com quem chegou a morar junto. Essas e outras histórias ele conta salivando, com o costume aristocrático de se referir a todos, famosos ou não, por nome e sobrenome. O repórter, ele chama de príncipe.