Pamonha. Pamonha. Pamonha. Votem em pamonha!

Pamonha. Pamonha. Pamonha. Votem em pamonha!

Carlos Edyl - In memorian.

Uma Kombi velha com um som desafinado grita pelas esquinas anunciando a procedência daquela iguaria doce feita de milho:

PAMONHA. PAMONHA. PAMONHA de PIRACICABA.

Junto da vontade de me deliciar com aquele creme embrulhado em folhas verdes de milho, vem a remota memória de menino quando pamonha era um xingamento de mãe brava com a desatenção do filho. Zangas que se alternavam com Lerdo, Retardado (não existia a patrulha do politicamente correto), Pedro Bó, Palerma, Mocorongo, Bocó, Zaú, Boboca. (Babaca só viria com a puberdade e sua dose de picardia).

Essas ofensas, incapazes de gerar atrito maior que um "tô de mal" válido pela eternidade de algumas horas, nunca eram gratuitas, mas sempre resultado de uma bobeada, uma vacilada que sempre vinha quando a atenção e/ou a inteligência eram escassas.

O certo é que ainda assim passamos a vida tomando decisões nem sempre racionais, tipicamente "pamonhas" (os lerdos, não o doce). E se traz humor e leveza ao cotidiano, obviamente quando em relação a assuntos irrelevantes, também pode acarretar em resultados trágicos quando se trata de assuntos mais sérios.

ALTO LÁ! Diria o sempre bom amigo Chico Elias. Respeito é bom e todos nós gostamos.

A forma que alguns, principalmente em época eleitoral, subestimam nossa inteligência e superestimam nossa cristã paciência é uma forma pouco sutil de nos chamar de PAMONHAS. Abusam de nossa boa educação e se revestem de cinismo e hipocrisia achando que nos enganam.

Pamonhas que são, acreditam que pamonha vota em pamonha.

E não conseguem entender a aversão cada vez maior do povo em relação ao processo eleitoral. Abaixando o nível dos debates cívicos, acabam por afastar grande parte dos cidadãos de bem, potenciais políticos com P maiúsculo, já que muitos se negam a se misturar com a corja de pamonhas que não enxergam além do próprio umbigo (conta bancária).

Dentre os atuais candidatos a prefeito, alguns poucos, ganhando ou perdendo,vieram acrescentar, somar, adicionar e elevar o nível do debate. O restante, meros oportunistas, só possibilitados pelas falhas de um sistema que mantém impunes os nocivos ao bem comum e cujas candidaturas foram forjadas em gabinetes sem o mínimo de respeito e compromisso com a sociedade. Sem falar nos aventureiros que se lançam candidatos mesmo que desprovidos de liderança legitimada.

Esse restante é que faz o cidadão se alienar do processo político, levando equivocadamente a concluir que é tudo farinha do mesmo saco. Comete-se então uma grande injustiça aos poucos, porém imprescindíveis, candidatos que realmente representam correntes de pensamento da sociedade.

Grandes e indigestos pamonhas.

-PAMONHA. PAMONHA. PAMONHA.
-PAMONHA DE PIRACICABA, PAMONHA DE TRÊS CORAÇÕES, PAMONHA DE SÃO THOMÉ, É TANTA PAMONHA QUE NUNCA ACABA.

É assim que ouço os mais diferentes jingles políticos esgoelados por carros de som desafinados que espreitam pelas ruas da cidade achando que a orelha alheia é rede de esgoto. E no lugar de folhas verdes de milho, zilhares de "santinhos" com fotos de candidatos sorridentes. Decerto achando bonito sujar o chão, desperdiçar papel, acham engraçada a poluição visual – e de idéias – enquanto nos assombram e aterrorizam com a ameaça de algum dentre eles – pamonhas – acabar por eleito.

PAMONHA. PAMONHA. PAMONHA.

O povo brasileiro, tricordiano em especial, é pacato, cordial, educado, simplista. O Mineiro, por natureza, é um doce de pessoa. Mas pamonha não.

-É A SUA! VÁ VOCÊ! Respondo irado, independente se o anúncio é de doce de milho ou mensagem subliminar dos que se banqueteiam com a ignorância e sua permanência.

Marco Telles