Dois malucos por surf e um doido

Zeca Proença.

E senta que lá vem mais uma História de Surf das Antigas, contada por esse narrador, surfista das antigas, músico e compositor: Zeca Proença.

Nos tempos do Pier de Ipanema estava morando na Barão da Torre, em frente ao Restaurante Natural, em Ipanema e bastava subir a Farme de Amoedo para ver o Pier de Ipanema. Mesmo assim, as vezes dormia na casa do Lipe (Felipe Dylong) que era em frente a Praça General Osório e mais próximo das ondas, para chegar ainda mais cedo no Pico.

Beth Modesto, André de Biasi, Lipe Dylong e o Menino do Rio - Peti.

Nessas saídas de madrugada para o surf, encontrávamos o Whati (irmão do Lipe) todo uniformizado indo para o Exercito, e gritávamos:

“Vai Piriquito Verde que nós vamos surfar, o mar tá perfeito!”

Ele ficava doido, quase largava o uniforme e corria para o Pier de Ipanema.

Numa semana de ondas perfeitas e crowd também, eu e Lipe bolamos um jeito de sermos os primeiros a chegar no Pico no dia seguinte: o plano era dormir na praia em frente as ondas.

Depois do por do sol fomos nas nossas casas e pegamos uns sleepbags, lanche, água, parafina, etc e, com as pranchas, voltamos para a praia onde armamos um acampamento.

Escolhemos um lugar protegido do vento e esticamos os sleepbags. Colocamos as pranchas fazendo uma parede de proteção e tudo pronto, era só dormir logo para acordar o mais cedo, cheio de disposição para as ondas do dia seguinte.

Tudo ia indo bem, até que pelas duas da manhã eu acordei, olhei para os lados para dar uma checada e notei que éramos três em vez de dois… Acordei o Lipe:

Ai Lipe, tem mais um fissurado nas ondas no mesmo barco.

Lipe falou:

É, mas o cara não tem prancha, não tem nada e nem pinta de surfista.

Ai olhamos legal, o cara só tinha a roupa do corpo que era um uniforme esquisito e fingia que tava dormindo, se disfarçando de surfista. Nessa confusão, imediatamente levantamos e o maluco também, grilado, saiu correndo em direção a rampa que ia para o Pier de Ipanema, subiu no Píer e foi andando rumo ao mar. Nisso, os seguranças do Píer de Ipanema acenderam os refletores e deram o alarme indo capturar o “doido” que já estava no final do Pier. Quando voltaram com ele, fomos perguntar o que acontecia e veio a explicação: havia um alarme geral de que tinha fugido um “doido” do Pinel (hospital psiquiátrico localizado em Botafogo) e a segurança do Píer de Ipanema que era feita por Policiais Militares já estava procurando o “doido”, que tinha sido visto por ali. Passaram por nós e acharam que eram três surfistas loucos por surf e não dois loucos por surf e um doido de pedra. Se não tivéssemos espantado o “doido”, certamente não teria sido encontrado.

Zeca "Mendingo" Proença.

Passado esse alvoroço, voltamos para o acampamento mas não conseguimos mais dormir e logo já estava amanhecendo. Só restava mesmo ir para dentro d'água, sem aquela disposição de uma noite bem dormida. Mas fomos os primeiros a pegar altas ondas naquele dia de surf doido além de ter uma historia para contar a semana inteira.

Aloha!